“Mal-estar” ou “Mau-estar”? Uma análise gramatical e semântica

No uso do português, é frequente a confusão entre as expressões "mal-estar" e "mau-estar", sobretudo em produções escritas de carácter académico ou jornalístico. Este artigo propõe uma breve análise gramatical e etimológica para esclarecer qual das formas é correcta e explicar a razão desse uso, contribuindo, assim, para o aprimoramento da competência linguística de falantes e escritores.

CRATYLUS

6/24/20252 min read

  1. Introdução

    No contexto da língua portuguesa, alguns advérbios e adjectivos apresentam formas gráficas semelhantes, o que pode originar confusões na comunicação escrita. É o caso de "mal" (advérbio) e "mau" (adjectivo). Tal distinção interfere directamente na formação de algumas expressões compostas, como é o caso de "mal-estar" ou "mau-estar". A dúvida sobre qual expressão é gramaticalmente aceitável motiva esta reflexão.

  2. Aspectos gramaticais de "mal" e "mau"

    Segundo Bechara (2009) e Cunha & Cintra (2013), mal é, predominantemente, um advérbio e significa o oposto de bem; já mau é um adjectivo e opõe-se a bom ou boa.

    Por conseguinte:

Mal = advérbio: indica modo, condição, tempo ou qualidade negativa de uma acção (Ele dorme mal).

Mau = adjectivo: qualifica o substantivo como de qualidade negativa (Ele é um mau aluno).

Assim, o elemento de composição para expressar uma condição de indisposição, desconforto ou perturbação física ou psicológica deve ser o advérbio mal, por indicar o oposto de bem-estar.

  1. O uso correcto: mal-estar

    No âmbito da formação de palavras compostas, "mal-estar" configura-se como a forma consagrada nos principais dicionários (Houaiss, 2001; Michaelis, 2020; Priberam, 2024) para designar a sensação de desconforto físico ou emocional, uma indisposição ou mal-sentir generalizado. É o antônimo directo de bem-estar.

Exemplos de uso correcto:

(i) O paciente apresentou um mal-estar súbito.

(ii) As más notícias causaram um mal-estar geral na equipa.

A forma mau-estar não encontra respaldo gramatical ou lexicográfico e é considerada incorrecta no português padrão.

  1. Considerações etimológicas

    Do ponto de vista morfológico, "mal-estar" combina o advérbio "mal" com o substantivo "estar", indicando o acto de estar mal, em oposição a estar bem (bem-estar). Logo, manter o advérbio "mal" é coerente com a construção de sentido e com a estrutura da língua.

  2. Conclusão

    Com base na gramática normativa e em fontes lexicográficas de referência, confirma-se que a forma correcta e recomendável na escrita culta é mal-estar. O uso de "mau-estar" constitui um erro ortográfico e gramatical, derivado da confusão entre o advérbio "mal" e o adjectivo "mau". Assim, recomenda-se que estudantes, redatores e investigadores atentem à correcta grafia para garantir a precisão do discurso escrito.

Referências

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: www.priberam.pt (Acesso em: Junho de 2025).

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

MICHAELIS. Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br (Acesso em: Junho de 2025).